quarta-feira, outubro 18, 2006

Interferência

Um senhor de mais ou menos 65 anos se aproxima de uma menina de forma muito gentil.
― Você é muito bela!
Ela agradece, também de forma gentil, mas um pouco desconcertada. O senhor sente em seu olhar que pode dar seguimento a um diálogo.
― Eu estudei quiromancia. Você sabe do que estou falando?
A menina responde que sabe do que se trata e acha interessante. O senhor se sente um pouco mais à vontade e pede a mão esquerda da menina. Nesse exato momento ela estranha, mas se rende à curiosidade. Isso provoca no senhor uma certa segurança. Continuando, ele pega na mão da menina, alisa as linhas, vira a mão, olha os dedos e de repente pede a ela um papel em branco. A menina corre para atender o pedido do senhor e traz o papel e uma caneta.
― Desenhe um caminho, uma cancela e uma árvore.
A menina fica insegura, mas se rende ao pedido do senhor. Na sua mente, uma dúvida: o que será que ele vai dizer? Com certeza deve ser algo interessante. A menina ficou mais curiosa ainda! Desenhos feitos, ele pede novamente sua mão. De repente começa a falar coisas sobre a personalidade da menina, coisas de sua vida passada, coisas que para ela são segredos íntimos. Nessa hora a menina fica paralisada, sem entender como aquele senhor poderia saber daquelas coisas, pois eles nunca haviam se visto antes. Tinha na sua face um sorriso perplexo! O senhor tinha uma voz muito baixa, nessa hora a menina achava que o tom de sua voz era só para os seus ouvidos. Para ela, as palavras daquele senhor só tinham a intenção de alcançar seus olhos! Após uma pausa de alguns segundos, o senhor disse para a menina:
― Quanto ao seu passado, posso ter te dito algumas coisas, quanto ao presente te revelei nada surpreendente e quanto ao teu futuro, só posso dizer uma coisa... Você conhece a música Carolina, de Chico Buarque?
A menina sorri.
― Então se mexa imediatamente, pois o que vejo nas linhas da tua mão é uma espécie de Carolina. Pense nisso!
E o senhor foi se afastando lentamente. No meio do caminho ele volta e diz:
― Ah! Só mais uma coisa: a felicidade está muito próxima da verdade. Pense nisso também!
Apertou a mão da menina e seguiu seu caminho.

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